«Além e Bailado» é um texto semi-independente anexo a Asas, uma experiência literária em dois fragmentos (Além e Bailado, precisamente) na qual Mário de Sá-Carneiro encarna o protagonista de Asas, o tal Petrus Ivanowitch Zagorianski, excêntrico autor russo que procurava a forma literária tão pura que seria capaz até de se escapar à gravidade. E de facto faz muito pouco sentido sem o conto-pai.
É um texto inerentemente fragmentário, não só por constar de dois fragmentos, mas sobretudo por consistir de frases normalmente soltas, por vezes unidas em brevíssimas sequências, frases que Zagorianski por intermédio de Sá-Carneiro pretenderia perfeitas. Praticamente não há enredo, praticamente não há uma verdadeira tentativa de contar uma história; é forma pura, quase sem conteúdo extraliterário. E por isso mesmo, naturalmente, não me agradou.
De facto, não me agradou por mais motivos além dessa sobredosagem de forma. Não me agradou também porque este texto me pareceu mal sucedido enquanto experiência. O sucesso existiria, parece-me, se Sá-Carneiro tivesse encarnado realmente o tal Petrus Zagorianski... mas isso implicaria ter usado imagens e estilo próprios da personagem. Um pouco como o Pessoa (que Sá-Carneiro conhecia, de resto, portanto não seria ideia que lhe fosse estranha) fazia com os seus heterónimos. Mas não é isso o que aqui se encontra. O que aqui se encontra é um Sá-Carneiro tão puro que chega a repetir imagens já encontradas noutras das suas histórias.
Malabarismos literários à parte, achei este texto fraco.
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