O Apocalipse Privado do Tio Geguê, de Mia Couto, é um conto curioso porque no seu âmago, embora profundamente enterrada, está a política. Há nele, na história do homem que se vê alçado a autoridade suprema de um território, do homem que se vê acima da lei, sendo a lei, qualquer coisa de Apocalypse Now, e há nisso uma referência clara ao Moçambique dos tempos da guerra civil. Pois, num momento em que o Estado era fraco, distante e contestado, o país devia estar cheio de pequenos potentados isolados do mundo e das leis como o que aqui se entrelinha.
Por cima, as camadas são múltiplas. Há uma história de amor, ou de amores cruzados, o amor e lealdade filial de um órfão pelo tio, sempre salpicado de ódio e de crime, e o amor do órfão por uma rapariga de sua idade que o tio afasta. E de ciúme, e de desejo, a tal ponto que parece ser isso a mover o conto. Mas não é, não propriamente. O que faz mover o conto é o bem e o mal e o modo como esses ideais se misturam num confuso bolo nas pessoas reais. É bom, o conto? É.
Conto anterior deste livro:
muito top
ResponderEliminarmuito bom
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