Asas (bibliografia) é mais um conto fantástico de Mário de Sá-Carneiro onde, de novo, o narrador em primeira pessoa vai encontrar uma personagem particularmente excêntrica, talvez louca, um artista enredado numa frenética busca por um qualquer supremo objetivo artístico. Neste caso, a personagem que se descreve no conto é um poeta russo, e a sua obsessão artística é atingir uma tal pureza das palavras que elas se tornem imunes à ação da gravidade.
À primeira vista, a ideia não passa de um daqueles arroubos poéticos que, com alguma reflexão, depressa se mostram muito disparatados. No entanto, Sá-Carneiro usa-a para desenvolver uma reflexão sobre aquilo que a seu ver será a essência da arte. Uma reflexão à primeira vista inteiramente realista, mesmo sem descontar os exageros de narrador e personagem, mas que no final do conto se vem a revelar fantástica. Também isto não é novo nestes contos e novelas, mas aqui Sá-Carneiro leva a técnica ao limite das possibilidades, pois o fantástico só aparece na última página de um conto que ocupa 16, sem que isso faça com que deixe de ser fundamental para a história.
Este é outro bom conto. Não é certamente a melhor história de Sá-Carneiro, mas também está longe de ser a pior.
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