Na Europa Tropical, de Artur Manuel Pires, é daqueles contos nostálgicos sobre a infância que tão do agrado são dos leitores nostálgicos. Não é o meu caso; nostalgia pela infância é doença de que não sofro, e isso retira-me logo do centro do alvo de público a que esta história se dirige.
Às vezes, quando o escritor é particularmente bom, capaz de infundir na obra novidade ou surpresa, sejam estas de perspetiva, enredo ou tratamento literário da língua, contos desta espécie conseguem impressionar até leitores normalmente imunes a este tipo de umbiguismos desfasados no tempo. Pires, embora o esforço seja meritório — o conto tem uma estrutura interessante, analéptica, e um enredo irónico à volta de um tesouro enterrado por dois rapazes, amigos de infância, que poderia causar embaraço (e daí...) aos adultos em que os rapazes se transformaram caso fosse descoberto por terceiros alheios à sua história de vida, e que portanto estes vão procurar localizar e recuperar o mais discretamente possível — não chega bem a esse ponto. Fica-se pela condição de continho simpático, de que nostálgicos provavelmente gostarão mas que me deixou em grande medida indiferente. Achei-o um conto razoável, não mais.
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