Esta gente de antigamente tinha mesmo um problema qualquer com as madrastas. E agora que penso nisso, esta prevalência de madrastas maldosas nas histórias infantis, sejam estas de origem portuguesa ou não, é capaz de explicar parte da tendência para o biologismo que ainda infeta o discurso público nos dias que correm: afinal, se as madrastas são necessariamente umas cabras, se as criancinhas não forem criadas pelos pais biológicos as coisas só podem correr mal, certo?
Errado, mas pronto.
Pois a madrasta deste conto recolhido em Coimbra pelo Adolfo Coelho enterra a enteada viva no quintal porque esta cometeu o crime de deixar um pássaro levar um figo que lhe ordenara que guardasse. O que, claro, já explica o título de A Menina e o Figo. Mas claro que como nestas histórias tudo fica bem no fim, há uns milagres, há uns versos declamados, e a madrasta acaba punida pela malfeitoria.
É mais um daqueles contos de uma página ou, como neste caso, um pouco menos, que parecem resumos ou esboços de histórias maiores e que tão comuns são neste livro; contos apressados, nos quais os acontecimentos se atropelam; contos que parecem pedir que alguém pegue neles e os desenvolva. Mesmo apesar dos clichés. Porque tal como estão têm interesse sociológico e pouco mais.
Contos anteriores deste livro:
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