Se há coisa universal na arte, seja ela qual for, é a imitação servir como forma inicial de formação da personalidade artística. À partida, nada nisso existe de sinistro ou aético; Fulano admira intensamente Sicrano, acha que o que Sicrano faz é maravilhoso, e quando se põe também a fazer tende naturalmente a fazer igual ou parecido, pelo menos até desenvolver voz própria. É em grande parte assim que se criam os movimentos artísticos, os géneros, as correntes, por aí fora.
Se Roberto Schima está aqui no papel de Fulano, o seu Sicrano é claramente Ray Bradbury. A prosa poética está lá, Marte também, a abordagem suave e ternurenta à exploração e à aventura idem aspas. O Filho do Homem (bibliografia) é uma vinheta sobre a busca da vida em Marte, inspirada pelo primeiro grande caso de sucesso na exploração robótica do planeta: a sonda Viking 1. Sucesso técnico, porque a vida que as Viking tentavam encontrar não foi encontrada, o que foi um duro golpe para gerações de fãs de ficção científica, habituados às histórias sobre marcianos pelo menos desde que H. G. Wells criou a sua guerra dos mundos. Como muitos outros, Schima revoltou-se contra a revelação, e arranjou uma maneira de os resultados transmitidos para a Terra poderem não contar a história toda. A ideia dele não faz grande sentido científico, mas o conto está bem concebido e regra geral bem escrito. Não chega aos calcanhares de Bradbury, evidentemente, mas não é mau.
Conto anterior deste livro:
Sem comentários:
Enviar um comentário
Por motivos de spam persistente, todos os comentários neste blogue são moderados. Comentários legítimos passam, mas pode demorar algum tempo. Como sempre acontece, paga a maioria por uma minoria de abusadores. Parece ser assim que o mundo funciona, infelizmente.