terça-feira, 23 de outubro de 2018

Lido: Face a Face

Muitos não sabem ou não querem saber, mas a ficção científica é sempre pelo menos em parte uma forma alegórica de falar de questões e preocupações muito contemporâneas e/ou das eternas contradições da condição humana (de resto, nisso não tem nada de único entre os géneros não realistas; a fantasia, o horror, todos, em suma, fazem o mesmo). Por vezes os autores fazem-no de forma mais ou menos inconsciente, mas a melhor FC é e sempre foi aquela em que essa componente é introduzida conscientemente.

E é o que Luiz Bras faz em Face a Face, dando ao conto pinceladas de ficção científica (o texto começa em pleno combate apocalíptico e termina com alusões cosmogónicas) mas falando na realidade da relação entre o eu e o outro, sendo que neste caso o eu é um indivíduo superiormente misantropo. Um indivíduo cuja misantropia está sob cerco e é amplificada por esse mesmo cerco, um indivíduo que dispara para todos os lados em plena guerra civil contra o mundo inteiro como quem grita DEIXEM-ME EM PAZ! às hordas de atenciosos.

Não sei se na inspiração para este conto de página e meia estão incluídas as redes sociais, mas há nele qualquer coisa que me levou o cérebro para os facebooks e twitters da vida, o que talvez diga mais sobre mim e a minha relação com eles do que propriamente sobre o conto. Mas seja como for esta é outra história bastante interessante, mais por aquilo que deixa subentendido do que pelo que fica expresso.

Textos anteriores deste livro:

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