quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Lido: O Conde de Paris

Há algumas histórias de fantasia, maravilhoso, horror, etc., em que os elementos supranaturais são óbvios: coisas que aparecem e desaparecem, pessoas que se transladam de e para mundos secundários, forças e criaturas misteriosas que se manifestam de forma palpável, por aí fora. Outras, no entanto, dependem de interpretação. E O Conde de Paris, recolhido por Adolfo Coelho em Coimbra, é uma destas últimas.

E também é daquelas histórias protagonizadas por reis e princesas, muito comuns nos contos tradicionais. Neste caso acrescentadas de um conde, o de Paris, com quem o rei trata o casamento da filha. Mas a filha não está pelos ajustes e o conde, espertalhão, decide dar-lhe uma ensinadela. Como? Por intermédio de um preto (assim mesmo), que seduz a princesa ao ponto de ela fugir com ele. Ora, se a maioria dos pretos na Europa de hoje em dia não têm propriamente a vida facilitada, na Europa oitocentista (época da recolha; a história é provavelmente anterior) muito menos, e portanto a princesa vai passar por uma série de dificuldades e indignidades.

No fim revela-se que o preto sempre foi o Conde de Paris, que acaba por casar com a princesa e foram muito felizes para sempre como é da praxe. Não fica claro é como passou o conde por preto durante meses, talvez anos. Disfarce? Metamorfismo? Interpretando de uma forma, temos realismo (ainda que inverosímil), interpretando da outra, temos magia, logo fantasia. Ou seja, no fundo, temos aqui uma aproximação clara aos casos que Todorov tipifica na sua definição de fantástico, ainda que de uma proveniência bem distinta. E quanto ao conto em si, é daquelas histórias que bem espremidas davam para muitas mais páginas do que as duas que ocupa. Há várias assim neste livro, o que não deixa de ser interessante.

Contos anteriores deste livro:

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