Com estes Ossos do Ofício, Mia Couto regressa às crónicas que são declaradamente pequenos contos, mesmo que porventura baseados em casos reais (ignoro por completo se são ou não, mas admito a possibilidade). Não posso dizer que regressa ao humor, pois temos tido muito disso nas últimas crónicas-mesmo-crónicas, embora aqui o humor criado pelo inusitado da situação seja menos feito de ironia fina do que, por exemplo, no texto anterior.
Mas que situação é essa?, perguntará quem estiver a ler isto. É uma situação algo semelhante àquelas de que o Mário Zambujal tanto gosta, ainda que em outras geografias.
Sim, estamos no mundo dos bons malandros. Ou, vá, pelo menos dos malandros. O protagonista é primo de um preso, gatuno convicto, e, longe de se envergonhar disso, é vaidoso do primo e da sua atividade. Tal como o primo, de resto. Mas o mundo de ambos ameaça desabar quando chega a funesta: vão libertá-lo. Segue-se o inevitável, o plano para regressar rapidamente à cadeia e manter intacta a imagem banditesca. Mas as coisas não correm exatamente como planeado.
Podia tratar-se apenas de uma comediazinha de costumes ambientada entre a gente da má vida, e já seria perfeitamente eficaz, mas Mia Couto ainda lhe confere um subtilíssimo perfume a crítica à realidade moçambicana da época. Social e, sim, também política. É um conto bastante bom, este, mesmo sem ter nada daquilo que mais tende a agradar-me no que leio: a faceta fantástica.
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