Os pré-conceitos são engraçados. Já tenho este livrinho cá em casa há anos e anos, uma vez que comprei a coleção completa. Fui lendo os outros e este foi ficando para trás. Porque não gosto de literatura romântica, de uma forma geral, quer o termo se refira à corrente literária, quer no sentido mais comum de equivalente literário do dia de S. Valentim, e porque supus que histórias de amor não tivessem grande coisa a interessar ao Bibliowiki, outro dos fatores que costumo ter em conta quando decido as próximas leituras. E agora que finalmente me decido a despachar esta leitura, abro o livrinho e a primeira história que me aparece é logo esta do Oscar Wilde.
E atenção que vai haver SPOILERS.
É que O Rouxinol e a Rosa (bibliografia) não é nada do que eu estava à espera de um livro de contos românticos. Para começar, é uma história fantástica fortemente inspirada pelos contos populares. E depois, apesar de a princípio parecer sê-lo, não é propriamente romântica no sentido delicodoce do termo.
Trata-se de algo de próximo a uma fábula. O protagonista é um rouxinol que, enternecido pelas dores de amor de um jovem, resolve ajudá-lo. O jovem anda apaixonado por uma mulher que exige que ele lhe entregue uma rosa vermelha antes sequer de lhe dar alguma oportunidade de tentar conquistá-la. Só que a temporada não é a certa e ele não encontra rodas vermelhas em lado nenhum. Só há brancas. Desespero. O rouxinol é que, mais sintonizado com o lado mágico das coisas, sabe de uma forma de transformar a rosa branca em vermelha, embora saiba também que terá de dar a vida para o conseguir. Tem de espetar um dos espinhos da roseira no coração, fazendo cair sobre a rosa o seu sangue, e morrer enquanto canta. Tudo muito trágico e romântico, não é?
Não, não é. É que depois chega o desenlace e tudo se desfaz. A mulher rejeita o jovem, mesmo depois de este lhe dar a flor e o jovem limita-se a deitar fora a flor que o rouxinol se sacrificou para criar, ignorando por completo o sacrifício da ave. O conto termina numa denúncia dos ideais românticos, tão violenta que não me surpreenderia se alguns lhe chamassem cínico. Quanto a mim, chamo-lhe francamente interessante.
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