Pois. Se o primeiro conto deste livro me surpreendeu por não ver nele aquilo que esperava encontrar numa antologia de contos românticos, neste De Viagem Guy de Maupassant oferece precisamente aquilo de que eu estava à espera: uma história romântica, sobre amores arrebatados e trágicos, com muita faca e alguidar à mistura. Precisamente aquilo de que eu não gosto.
Mas, como já disse numerosas vezes por aqui (acho que digo o mesmo sempre que leio alguma coisa de Maupassant), o velho Guy era um escritor do caraças. E este conto é um excelente exemplo disso mesmo, porque só um escritor do caraças me conseguiria levar a gostar duma história como esta.
A história é daquelas de ouvir dizer, que tão em voga estiveram no século XIX e início do século XX, aquelas histórias em que um grupo de personagens secundárias conversa e conta histórias umas às outras. Muitas vezes, estes contos são fantásticos: histórias de fantasmas e assombrações, casos insólitos, por aí fora. Mas aqui não. Aqui, o nosso narrador (subnarrador?) relata um caso protagonizado por uma condessa russa que viaja para o sul de França a fim de se tratar de uma "doença de peito", provavelmente a tão literária tuberculose (há centenas e centenas de histórias desta época que têm a ver direta ou indiretamente com a tuberculose), e que antes de sair do país ajuda um jovem perseguido a fugir, conquistando com esse ato de solidariedade o seu amor eterno.
Este segue-a, claro, que o comportamento de assédio era na época tido como altamente romântico. Especialmente quando platónico, como aqui, visto que o jovem se limita a mirá-la de longe, observar as janelas da casa onde ela se aloja em busca de um vislumbre, sem nunca chegar a aproximar-se. Até que o desfecho, inevitável quando temos em conta que este tipo de história vive de tragédia, acontece. Mas está tudo tão bem contado, com uma mestria tão grande, que eu, que normalmente acho estas histórias ridículas, quando não lhes encontro características piores, gostei de ler o conto.
Conto anterior deste livro:
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