sábado, 16 de fevereiro de 2013

Notas finais à análise do Vocabulário da Mudança

E pronto. Foi isto. Não estou a ver bem que dados se possam tirar mais do Vocabulário da Mudança (mas se tiverem alguma ideia, continuo recetivo, se bem que não garanta que a ponha em prática... é que isto, parecendo que não, ainda deu uma trabalheira), mas já aqui ficam bastantes. Mais que suficientes para tornar cristalino até que ponto é treta o que certos "estudiosos" andam a dizer sobre a nova ortografia originar divergência em vez de convergência. É preciso uma grande vesguice de análise ou uma grande dose de má-fé para afirmar uma coisa dessas. Sim, há casos de divergência, mas há muitas vezes mais casos de convergência, o que faz com que, no global, a ortografia convirja. Como é óbvio. E quem vos disser o contrário, estará a tentar aldrabar-vos. Não deem ouvidos a aldrabões.

Notem que esta minha análise, porque parte do mesmo ponto de partida daquele lamentável simulacro de estudo da Maria Regina Rocha, incide só e apenas sobre o Vocabulário da Mudança. E o VdM não é exaustivo. Há bastantes palavras que ficaram de fora, não só as formas verbais de que já tinha falado num dos primeiros posts da análise, mas outras também. Na verdade, e apesar de muitas vezes tentarem sê-lo, nenhum vocabulário de uma língua viva é exaustivo, precisamente porque a língua é viva. Uma língua viva está constantemente a mudar, há constantemente palavras novas a serem criadas ou importadas de outras línguas, palavras a cair na obsolescência, palavras a ser resgatadas dessa obsolescência, etc. Porque todas as línguas vivas têm os seus utilizadores criativos — e ainda bem que assim é; que seria da literatura sem eles? — e esses não se contentam com o que há e inovam... e também porque todas as línguas vivas têm os seus utilizadores ignorantes — e tantos que eles são, até muitos que julgam não o ser — e esses não sabem bem o que há e deturpam. Uns e outros são os agentes da mudança, e a mudança é constante e imparável. E isso implica que o momento em que um putativo vocabulário ficasse completo seria o exato momento em que se tornaria obsoleto.

Portanto, o Vocabulário da Mudança não é, nem nunca seria, algo de completo. No entanto, nada indica que não se trate de uma amostragem fiel do que muda e como. Uma amostragem que permite ter uma ideia bastante aproximada (sujeita a erro, como todas as amostragens, mas com um erro bastante pequeno) das tendências globais da mudança ortográfica e do que lhes está subjacente. Os números totais de cada categoria em que o fui subdividindo ao longo da análise seriam certamente diferentes com um eventual vocabulário completo, mas as proporções entre uns números e outros deviam ser muito idênticas. E as tendências gerais também.

E pronto, fico-me por aqui. Foi uma trabalheira. Mas também foi divertido, e foi, com toda a certeza, bastante instrutivo.

Uma nota final: caso não tenham reparado, criei uma tag própria para a análise: "

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