quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O dedo na ferida

Façam um grande favor a vós próprios, ó punhado de fiéis leitores que por aí andam, e leiam, leiam pela vossa saudinha, este magnífico artigo do Daniel Oliveira. Mas se não quiserem lê-lo todo, no que incorrem em tremendo erro, permitam-me que destaque aqui um par de passagens que põem o dedo bem dentro da ferida:
[...] a democracia não é um centro comercial, onde se escolhe, à última da hora, o produto que se quer comprar. Aqui o cliente não tem sempre razão. Porque o cidadão não é cliente e as escolhas políticas não são produtos. A democracia é dos cidadãos e é feita pelos cidadãos. Se funciona mal a culpa é nossa. Um povo que realmente se revolta e quer ser consequente com a sua revolta luta por alternativas. O discurso populista contra os "políticos" (como se não fossem eleitos por nós) e o voto inconsequente de mero protesto - como se o protesto pudesse ser resolvido em cinco minutos, numa mesa de voto - resulta de uma infantilização dos cidadãos. Que os próprios cidadãos alimentam para se desresponsabilizarem pelas suas escolhas.

Em vez de se comportarem como donos da sua vida e responsáveis pelas suas escolhas, os italianos fizeram uma birra. Julgará, quem assim se comporta, que assusta o "sistema", o "regime" e os "políticos". Não assusta ninguém. A inconsequência do protesto é a coisa mais fácil de assimilar. Beppe Grillo é um episódio. Daqui a poucos anos, depois da dura passagem pela política lhe retirar a graça e o brilho, será mais uma estória na história política italiana, sempre tão recheada de peripécias. Nem a banca, nem os burocratas, nem a Mafia, nem Bruxelas, nem Berlim, nem os "políticos do sistema" estão preocupados. Não muda nada. E é isso mesmo que o voto de um quarto dos italianos nos diz: estão zangados mas não querem correr o risco de mudar nada. Porque a mudança dá muito mais trabalho e menos vontade de rir do que o voto irrefletido num comediante. Exige ativismo, pensamento, confronto, risco.
Será que desta feita perceberam?

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