Muito curto, com duas páginas, pouco mais, este As Três Línguas é um conto tradicional que parece ter sido pouco alterado pelos Irmãos Grimm. Trata-se de uma fábula contaminada de catolicismo sobre os mal-entendidos da inteligência ou da falta dela, protagonizada por um rapaz cujo pai o achava burro porque ele "não conseguia aprender nada". Só que o rapaz na realidade aprendia, não o que o pai queria que aprendesse, é certo, mas as línguas dos animais. Pelo menos três. E essa aprendizagem leva-o a subir radicalmente na vida; no fim acaba em papa, nem mais nem menos.
É um conto tradicional muito típico, que corresponde bastante de perto ao que se encontra também nas recolhas feitas em Portugal: uma narrativa simples e apressada, temperada pelo maravilhoso, que pinta os acontecimentos de uma vida a pinceladas largas e traz consigo uma lição de moral, no caso a de que nem todos os conhecimentos são óbvios à primeira vista. Essa é a boa; há outra, mais negativa, pois esta história também pode ser interpretada como querendo passar a ideia que mais vale confiar na sorte e nos dons que as divindades (neste caso, claramente, o deus cristão) nos atribuem do que fazer algum esforço para se alcançar o que se deseja.
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