domingo, 25 de abril de 2021

Ângelo Brea: 盆栽

Não, não é engano nem piada. O título que Ângelo Brea deu a este seu conto foi mesmo 盆栽. E eu acabei de aprender que o itálico também funciona nos kanji japoneses. E o negrito idem.

Perguntarão vocês, a menos que saibam ler japonês, o que raio significa 盆栽. Os mais expeditos poderão ter ido a algum tradutor automático e já saberão que significa "bonsai". Para os menos expeditos, e para aqueles que têm apenas o livro na mão, sem possibilidade de uso imediato de alguma forma de conexão à rede, Brea explica numa notinha de rodapé. E no índice. Mas de que trata, ao certo, este conto tão estranhamente intitulado?

Ninguém se surpreenderá se eu disser que é um conto de ficção científica, suponho. Mais: é um conto de FC profundamente asimoviano, que acompanha a vida de uma família japonesa que cuida há gerações de uma coleção de bonsais quase capaz de rivalizar com a do próprio imperador. Um determinado bonsai é passado de pai para filho (ou filha), ou de avô para neto, não porque seja oferecido mas porque quando chega o momento do jovem que demonstra interesse pela coleção ser presenteado com um dos bonsais, do qual terá de cuidar a partir dessa altura, escolhe-o sempre. Este processo vai-se repetindo até que chega um momento em que a família parece não ter nenhum jovem interessado na coleção. Sorte que estejamos no futuro. Um futuro em que o colecionador da vez ganha a vida como roboticista. E, como sucede n'O Homem Bicentenário, constrói para si próprio o mais sofisticado dos robôs.

O Homem Bicentenário, de resto, parece ser a principal inspiração desta história, que lida com o tempo, a família e a tradição e a forma como essas coisas se relacionam com a mudança e a sucessão das gerações. É uma boa inspiração, convenhamos. Em parte por isso, talvez, este é um bom conto, dos melhores do livro até agora.

Contos anteriores deste livro:

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