Uma das consequências de ter aqui uma pilha de feeds RSS a entregar-me em permanência um fluxo contínuo de novidades, opiniões e o diabo a sete, usados para captar aquilo de que se alimentam as Leiturtugas, como provavelmente saberão, é de vez em quando deparar, precisamente, com o diabo a sete.
Neste caso, um diabo a sete bastante específico: ficção científica. Não opiniões sobre, que isso é relativamente comum (mas devia ser mais), mas textos de.
E nos últimos dois meses e picos houve vários. São sempre textos breves, normalmente mais próximos do exercício de estilo ou de escrita, ou então daquela espécie de FC que projeta para o futuro uma tendência do presente, para melhor criticar essa tendência, ou que pretende fazer uma antevisão mais ou menos utópica do que poderia acontecer, do que do conto devidamente pensado e elaborado que costumamos encontrar em revistas e compilações em livro.
(e agora pensei compilações e os meus dedos escreveram complicações... devem estar a tentar dizer-me qualquer coisa)
O delinear de utopia é o que acontece em Imaginar uma Serra da Estrela Selvagem, um texto de Pedro Prata, Daniel Veríssimo e Fernando Teixeira que finge ser um artigo escrito em 2033 sobre a serra tal como será no futuro imaginado pelos autores. Textos como este, mesmo quando se limitam a existir na cabeça do escritor, estão na base de praticamente toda a ficção científica ambientada no futuro. São o worldbuilding sobre o qual a história propriamente dita se desenvolve. E na verdade há entre nós uma certa tradição de textos como estes: o famoso Lisboa no Anno Dois Mil é basicamente isto.
Mais para o lado do exercício de escrita, parecendo mais o início de qualquer coisa do que um texto completo, Naquela Noite Ninguém se Deitou, da "Toupeira", é ficção propriamente dita e relata um acontecimento inexplicado e extraordinário ocorrido em 2112.
O continho de que mais gostei entre estes é Relatório Interestelar, do Artur. É precisamente o que o título indica, um relatório, é também um daqueles tão abundantes contos que olham para a espécie humana através de olhos alienígenas, e além disso tem duas qualidades principais: está bem escrito e é divertido.
Já Marte, da "Redonda" não se limita a parecer um exercício de escrita: é um exercício de escrita. Integrado num tal "CNEC", que suponho ser o Campeonato Nacional de Escrita Criativa (um conceito que me parece francamente bizarro, mas se serve para as pessoas escreverem, siga), é um conto sobre a eventual colonização de Marte para escapar a uma Terra em vias de destruição.
Quatro continhos de FC de produção recente e publicação online, em lugares inesperados. Não são obras-primas, mas nem é o que se espera deles nem é esse o objetivo. Produzir é o primeiro passo, e esse vai sendo dado. Venham os passos seguintes.
Já agora, a Toupeira também publicou neste período outro continho que, sem ser FC, se integra no mais vasto grupo da FC&F: Nada nas Mãos, Tudo na Mente.
Guardados no pocket para ler mais tarde :)
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