terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

Livros de 2021

Sim, isto vem atrasadíssimo. Gosto de funcionar ao contrário dos outros gajos. Ou então, se calhar, é só o facto de tudo na minha vida estar atrasado, portanto por que raio haveria isto de ser diferente? Se calhar.

Mas mantendo o meu lema de "tarda mas não falha", aí vai.

Em 2021 li pouco. Não há volta a dar-lhe: foi um ano de escassa leitura, que o número de títulos listados abaixo não consegue disfarçar, uma vez que muitos desses títulos correspondem a contos (e a contos bastante breves, muitos deles). Os motivos foram vários, mas o mais importante foi claramente o lento processo de recuperação da perna partida da minha mãe, com tudo o que isso implica de apoio e tempo gasto a fazer outras coisas, seguido pelas minhas próprias chatices de saúde, que não impedem a leitura mas tendem a deixar-me num estado de espírito muito pouco "literário", digamos assim, a que acresce uma série de outros motivos menos importantes individualmente mas que, somados, roubam ainda mais tempo e disposição aos livros.

O objetivo era mais uma vez chegar aos 50 títulos, mas a verdade é que já sabia ao estabelecê-lo que iria ficar bastante longe de o alcançar, a menos que a parte final do ano desse para ler mais. Não deu. E como resultado acabei por ler apenas 27 títulos. 15 desses títulos são de autores lusófonos, todos portugueses à exceção de um brasileiro e um moçambicano, e há ainda dois outros títulos que têm participação lusófona. A maioria, portanto. Do material não lusófono que li, quatro títulos foram lidos nas línguas originais, os restantes em tradução.

A lista completa é a seguinte:

1. Azazel, de Isaac Asimov (contos de fantasia satírica, por vezes com alguns elementos de FC);
2. A Luz Miserável, de David Soares (contos de horror, por vezes com elementos de FC);
3. Buscando la Paz Interior, de José Manuel Martínez Sánchez (misticismo, filosofia, religião, autoajuda, etc.);
4. Almanaque do Dr. Thackery T. Lambshead de Doenças Excêntricas e Desacreditadas, org. Jeff Vandermeer, Mark Roberts e João Seixas (contos pseudofactuais, sobretudo fantásticos, sobre doenças inexistentes);
5. Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll (novela fantástica infantojuvenil);
6. Casos de Direito Galático e Outros Textos Esquecidos, de Mário-Henrique Leiria (livros de poesia e de contos de FC e surrealismo);
7. A Conspiração Contra a América, de Philip Roth (romance de história alternativa);
8. Filhos de Duna, de Frank Herbert (romance de FC);
9. Utopia 14, de Kurt Vonnegut, Jr. (romance de FC);
10. Cronicando, de Mia Couto (crónicas e contos, muitos deles fantásticos);
11. Zeimoto Dá Primeira Espingarda aos Japões, de Fernão Mendes Pinto (excerto de crónica);
12. What's Up 2006, de Tammy Plotner (livro de astronomia);
13. Icarus Blues, de Ricardo Dias (conto de FC);
14. O Acordo, de Pedro Pereira (conto fantástico);
15. O Artefacto, de Pedro Pereira (conto de FC);
16. O Caçador, de Pedro Pereira (conto fantástico);
17. O Industrioso SL4V3, de Ricardo Dias (conto de FC);
18. Os Historiadores, de Ricardo Dias (conto de FC);
19. A Faca, de André Alves (conto de FC e horror);
20. Casos do Beco das Sardinheiras, de Mário de Carvalho (coletânea fantástica e humorística);
21. Contos Românticos, de vários (antologia mainstream e fantástica);
22. É Só uma Piada, de Carlos Silva (conto de super-heróis);
23. /foradosistema, de Rafael Alexandrino Malafaia (conto fantástico com elementos de FC);
24. Ivory Tower, de Bruce Sterling (conto de FC);
25. I, Robot, de Cory Doctorow (noveleta de FC);

Quanto a números de periódico, foram lidos os seguintes:

26. Magazine de Ficção Científica, nº 10 (contos de ficção científica e fantasia);
27. 1000 Universos, nº 1 (contos de ficção científica, horror e fantasia)

Contrariamente ao que tem sido norma dos últimos anos, em 2021 li bastante FC. Dos 27 títulos listados acima, 11 são de FC propriamente dita ou de FC e outra coisa mais ou menos em partes iguais, e outros 5 são predominantemente outras coisas mas contém elementos de FC. Ou seja, desta vez a maioria das minhas leituras incluiu ficção científica de alguma forma, mesmo que esta esteja bastante diluída em outras coisas. Mas como é hábito foram bastante diversificadas, com uma série de outros estilos e géneros, com predominândia do fantástico, a compor o ramalhete.

Em termos de qualidade também foi um ano diversificado. Não houve nenhum livro que me tenha deixado de queixo caído, mas houve um conjunto de nove títulos de que gostei bastante. E não é fácil escolher entre eles os três de que mais gostei: há uns cinco ou seis que podiam perfeitamente ficar no topo da lista. Meio ao calhas (e meio de propósito para falar aqui do máximo de títulos), vou pôr A Conspiração Contra a América de Philip Roth no topo, os Casos do Beco das Sardinheiras de Mário de Carvalho em segundo e I, Robot de Cory Doctorow em terceiro, destronando por pouco Ivory Tower de Sterling.

Só há aqui um livro lusófono, e foi de propósito. Além dos Casos do Beco das Sardinheiras a lista podia perfeitamente conter também os Casos de Direito Galático e Outros Textos Esquecidos de Mário-Henrique Leiria (muitos "casos" aqui nas melhores leituras do ano) e Cronicando de Mia Couto, e são estas três as melhores leituras lusófonas do ano que passou. Dois portugueses e um moçambicano; desta vez não houve brasileiros lá em cima.

Para fazer um top-3 de leituras com e sem FC só tenho de ir acrescentar mais um título aos já referidos. A Conspiração Contra a América é história alternativa, que pode ser vista como um subgénero da FC, I, Robot é FC pura e dura e os Casos de Direito Galático e Outros Textos Esquecidos, embora tenham outros textos esquecidos têm casos de direito galático, que não enganam ninguém quanto às suas características ciencioficcionais. Já no que toca às leituras sem FC, sendo obviemnte encimadas pelos Casos do Beco das Sardinheiras e por Cronicando, incluem também Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, rematando um conjunto de melhores leituras integralmente composto por obras pertencentes aos vários ramos das literaturas do imaginário (embora tanto o livro de Mário Henrique-Leiria como o de Mia Couto também incluam outras coisas).

Quanto às piores leituras, escolher as duas piores é fácil: Buscando la Paz Interior, de José Manuel Martínez Sánchez, e /foradosistema, de Rafael Alexandrino Malafaia. E sim, a ordem é esta. Já escolher a terceira pior é bastante complicado, que há uns quantos contos do Fantasy & Co. que estão uns furos acima destes dois títulos mas num patamar muito idêntico entre si. Noutro dia talvez escolhesse outro desses contos, mas hoje escolhi Icarus Blues, de Ricardo Pereira, derrotado ao photo-finish pel'O Acordo.

E assim se encerram as leituras de 2021. Ou não por inteiro, que ainda tenho por escrever umas quantas opiniões sobre material lido ainda no ano passado. Mas já sei o que penso sobre ele, pelo que isto é o resumo definitivo. Para o ano haverá outro resumo destes.

Provavelmente.

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