É curioso constatar quantos destes contos dos (ou recolhidos pelos) Irmãos Grimm partem de uma premissa comum: um filho (ou vários, normalmente três) que por um motivo ou por outro sai da casa dos pais e vai correr mundo onde o espera um sem-número de aventuras, frequentemente de caráter mais ou menos mágico. Aqui a magia surge desde o início, pois João Ouriço só existe porque o pai, farto de ser alvo de troça por não ter filhos, desabafa o seu desejo de ter um, "nem que seja um ouriço".
Não que João Ouriço o seja. É um híbrido quimérico, ouriço da cintura para cima, homem da cintura para baixo. E o pai, que se fartara da troça por não ter filhos, farta-se agora de ter um filho tão estranho como aquele e vê-se livre dele. Mas o jovem lá constrói o seu percurso pela vida, durante o qual acaba envolvido com a realeza, ou não estivéssemos no mundo dos contos de fadas. E, como estamos no mundo dos contos de fadas, no fim tudo termina em bem.
Este é um conto com o seu interesse, ainda que os muitos elementos que tem em comum com tantos outros o impeçam de ser memorável. Já se escreveram teses inteiras sobre os arquétipos na literatura popular, e esta história está cheia deles, mas a verdade é que, pela parte que me toca, o caráter repetitivo intrínseco aos elementos arquetípicos retira à leitura uma parte considerável do impacto e do prazer que poderia provocar.
É o caso aqui.
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