A Avó, a Cidade e o Semáforo é mais um dos poéticos continhos do Mia Couto. Desta feita trata-se de um conto sobre o choque entre o urbano e o rural, entre a modernidade e as velhas culturas e mundovisões do mundo antigo. A protagonista é uma velhota, avó do narrador, que terá passado a vida inteira na sua aldeia, mergulhada na sua cultura africana ancestral, sem saber, ou talvez mais propriamente sem querer saber, que lá fora as coisas são muito diferentes, que uma cultura bem diferente e cada vez mais globalizada — e uniformizada — aí predomina. É a esse "lá fora" citadino que o neto-narrador é chamado, e ela decide acompanhá-lo. Sem admitir contestação.
Não sendo dos contos que mais me agradou, achei-o apesar disso muitíssimo interessante de um ponto de vista, digamos, sociológico. Não me custa muito imaginar uma história semelhante a ter lugar no Moçambique natal de Mia Couto. Nem sequer me custaria imaginar uma história muito semelhante a ter lugar no Portugal de há algumas décadas, à parte um punhado de diferenças entre as culturas africanas e a nossa cultura europeia. Porque a civilização urbana global é muito semelhante no mundo inteiro e as velhas culturas rurais, apesar das diferenças, também têm muito de comum umas com as outras. Esta história é, pois, muito moçambicana, mas ao mesmo tempo universal.
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