Os Outros Dois é um conto de Edith Wharton que tem tudo para me desagradar. Detesto histórias mais ou menos fúteis de alta sociedade, as suas subtilezas sociais enchem-me de um sono imenso, abomino histórias centradas em triângulos ou quadriláteros amorosos, enfim, seria um milagre gostar desta história.
Porque ela é tudo isso.
Passa-se há coisa de um século, na mais alta das sociedades novaiorquinas do tempo, entre banqueiros e empresários, e gira em volta de uma mulher que enfrenta e afronta a moralidade do tempo por já ir no terceiro marido, depois de dois divórcios, tendo até uma filha do primeiro. O protagonista não é ela, mas o terceiro marido, que se vê confrontado com os outros dois. Um por causa da filha, o outro porque acaba por ter negócios com ele. E é o seu lento processo de mudança entre a revolta e repugnância interior perante a ideia de ter o mínimo contacto com qualquer desses homens e uma aceitação descomplexada de ambos que o conto mostra.
Compreendo perfeitamente a relevância, e até o caráter subversivo, que esta história terá tido na época (o conto é de 1904). Mas é das tais histórias que mostram que não é só a ficção científica que pode envelhecer de uma forma quase violenta. Hoje, enredos como este estão remetidos para a banalidade sensaborona da literatura cor de rosa ou das telenovelas, os dilemas morais do homem já pouco ou nada dizem aos de hoje e a atitude da mulher, tão irreverente na época, hoje chega a irritar de tal modo tempera essa irreverência com uma enorme submissão. Poderá, suponho, ser interessante lê-la para ver até que ponto as mentalidades mudaram em cerca de um século. E a história está escrita de forma competente. Mas a verdade é que, comigo, e apesar de tudo isso, o milagre não aconteceu: não gostei mesmo.
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