sábado, 21 de maio de 2016

Lido: 2014 Campbellian Anthology - Helen Marshall

De regresso a esta antologia, hoje falo de Helen Marshall, autora que está nela presente com três contos.

The Hanging Game. É sobretudo um conto de horror psicológico, mas também tem uma discreta componente de horror sobrenatural. Gira em volta de ursos, de estranhas tradições e de coisas que há que fazer para que outras coisas, aparentemente sem qualquer relação, aconteçam. Uma dessas tradições é um jogo infantil, chamado jogo do enforcamento, que consiste nisso mesmo, no enforcamento de um miúdo de uma árvore. Rezam as crenças que, ao ser enforcado, o miúdo vê o futuro. O enforcamento não leva à morte, apenas ao transe... até ao dia em que as coisas correm mal e alguém morre mesmo. É um conto bastante bem construído e inquietante.

I'm the Lady of Good Times, She Said. Outro conto de horror, muito bem concebido, muito bem escrito, até, com um uso muito bom de coloquialismos a servir para ambientar a história no meio em que ela se desenrola, apesar de este ser cliché e fazer imediatamente recordar cenas vistas em road movies pelo Oeste americano e em séries policiais. No meio de tudo está um homem que conduz sob a ameaça de uma arma, e vamos descobrindo aos poucos o porquê da condução e da ameaça. Quem o ameaça é o cunhado, criminoso condenado, e o motivo da ameaça é a traição. O ameaçado, que narra a história na primeira pessoa, é incapaz de resistir a mulheres, e o cunhado soube e não gostou. E não, o horror não é esse. O horror é essas mulheres serem fantasmas.

The Slipway Grey. Mais um conto de horror, contado por um velho sul-africano à sua "bokkie". É outro conto em que o que chama mais a atenção é a excelente forma como Helen Marshall adapta o texto à voz das personagens. Neste caso é a voz de um velho, prestes a morrer, que decide que tem de transmitir à descendência a sua sabedoria, aquilo que foi aprendendo ao longo da vida sobre a morte e as coisas mágicas que a rodeiam. Porque ao longo da vida ele se tinha aproximado muito da morte, não uma, mas duas vezes.

São três bons contos de horror, que mostram uma escritora muito forte na caracterização e nos instrumentos literários dessa caracterização, uma escritora que sabe ir transmitindo a informação necessária para a compreensão da história nos tempos certos, mas que no entanto têm um problema: não há neles nada que seja realmente memorável e por isso esquecem-se depressa.

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