O Pescador Cego, de Mia Couto, é um conto sobre o amor, o sacrifício, o machismo e a aprendizagem. E também sobre um pescador cego.
Não começa assim; começa num barco, na faina, com ambos os olhos funcionais, mas com o azar de se ter visto apanhado por uma tempestade e empurrado para mar alto. Aí, perdido, esfomeado e sem forças, depois de a tempestade terminar fica à deriva e sem isco com que apanhar peixe para se alimentar. Até que se lembra: e se usasse um olho? E arranca-o para dar de comer ao peixe e espetá-lo no anzol. É assim que cega. Cega para comer, um olho após o outro e, já cego, consegue, sem saber como, não só regressar a terra, como, milagrosamente (elemento do conto que, como o arrancar dos olhos, poderá ser encarado como fantástico; um fantástico muito dúbio, todoroviano) à mesmíssima costa de onde partira. Mas regressa amputado e por isso imprestável, e é aí que o conto ganha substância. Porque começa por encarar a nova situação com orgulho machista (o quê? Depender da mulher? Nunca!) mas vai aprendendo, aos poucos, graças a uma mulher que por ele se sacrifica até ao limite.
Mia Couto não sabe escrever mal, e por isso este é mais um dos seus bons contos. Mas não creio que seja dos melhores. Falta-lhe qualquer coisa para chegar ao sublime de alguns dos outros.
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