O Fixador de Instantes (bibliografia) é mais um conto de horror psicológico de Mário de Sá-Carneiro e volta, a meu ver, a não ser dos melhores. O motivo? A prosa, ultrarromântica, arrebatadíssima, excessivamente cuidada, uma prosa que quase se desmorona sob o peso dos berloques que carrega em cima. Sim, Sá-Carneiro dominava invulgarmente bem a língua portuguesa, mas por vezes caía num tal excesso de poetização que quase destruía os seus textos. É o caso de alguns contos que ficaram para trás e é também o caso deste que, por baixo do fogo de artifício literário, conta uma confissão de um artista enlouquecido, mais um, que procura a arte de fixar para si os instantes supremos da vida. E que instante será mais supremo do que o consumar de uma paixão? Quem não quereria fixá-lo? Ninguém, certamente. O problema é que o modo como o protagonista decide fazê-lo tem a ver com a morte, o que, sendo Sá-Carneiro quem é, não constitui nenhuma surpresa. E esse é outro problema deste conto: ser previsível. Não se encarado individualmente, mas no contexto da obra do autor sim, pois recupera uma vez mais quase todos os seus grandes temas e fixações. Qualidade do português à parte, portanto, este conto pareceu-me fraco.
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