Análise da Obra de Herbert Quain, conto curto de Jorge Luiz Borges, é mais um dos pseudofactuais borgesianos, e este tem o interesse acrescido de ser um pseudofactual autorreferencial, pois a obra fictícia de Quain tem contrapartidas reais na obra real do próprio Borges. O que, aliás, está plasmado no próprio texto, que faz referência direta ao livro que o inclui. E isso faz todo o sentido, pois a obra de Quain é descrita por Borges como tendo uma componente matemática forte, com estruturas narrativas regressivas e ramificadas que o próprio Borges utiliza neste mesmo livro. O Borges que aqui se apresenta ensaísta de um objeto falsificado é na verdade ensaísta de uma versão adulterada de si próprio, o que em si mesmo é um exemplo tanto da regressividade como da ramificação que atribui à obra de Quain.
Já disse algumas vezes que não sou grande entusiasta da ficção pseudofactual, deste tipo de textos ficcionais que mimetizam textos não-ficcionais. Considero difícil fazê-los bem, ainda que algumas variantes, como os textos históricos ficcionais, sejam mais simples do que outras (a história, real ou não, é sempre uma narrativa, e isso ajuda... outras variantes não têm tanta sorte).
Apesar disso, ou talvez por causa disso, quando algum dia me perguntarem por que motivo considero Borges um génio, eu vou apontar para este conto. Este conto é um autêntico monumento intelectual.
Contos anteriores deste livro:
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