O Embondeiro que Sonhava Pássaros é mais um fascinante conto de Mia Couto sobre um homem, negro e pobre, que, no Moçambique colonial, apanhava pássaros armado apenas de uma harmónica e depois os vendia a quem os quisesse comprar, perante a desconfiança das autoridades. Desconfiança justificada, aparentemente, pois com os pássaros chegaram ocorrências estranhas, quiçá até subversivas, e a resposta das autoridades foi aquela que seria de esperar de quaisquer autoridades não só coloniais, mas fascistas: engaiolaram o passarinheiro. E o resto da história tem a ver com um miúdo, uma harmónica e um embondeiro. E pássaros, claro. Muitos pássaros.
O conto, fantástico, é daqueles que subtilmente nos contam como a liberdade acaba no fim por vencer todas as gaiolas e por ultrapassar impossíveis. Subtilmente porque não o diz assim, com todas as letras, e também porque fala de várias liberdades diferentes sem falar declaradamente de nenhuma. De liberdade e de independência. Política, nacional, da infância contra as regras absolutas do mundo adulto, da imaginação, dos pássaros, no fundo, contra todas as gaiolas. Dos contos de Mia Couto os melhores costumam ser estes, os imaginativamente subtis. É o caso.
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