De médicos e de monstros se fez um dos mais famosos romances de proto ficção científica intimamente ligada ao terror, ou vice-versa (é mais vice-versa, sim), da literatura mundial. Mas essa não é a única história do autor, Robert Louis Stevenson, que mistura esses dois elementos. A prova? Esta noveleta intitulada O Ladrão de Cadáveres (bibliografia).
É uma daquelas histórias de ouvir dizer, alegadamente reais, com um narrador que relata algo que uma segunda pessoa lhe conta, tão em voga no século XIX e início do século XX. Uma história de bar. Depois de assistir a um estranho confronto entre um companheiro de bebedeira e um desconhecido, médico, o narrador ouve do amigo a história que explica o confronto.
É esta que tem muitos pontos de contacto com a protagonizada pelo Dr. Jekyll e pelo Mr Hyde. À primeira vista, e durante muito tempo, parece apenas uma história de crime, sobre gente sem escrúpulos que assalta campas e rouba cadáveres para os fornecer a uma escola de medicina para as aulas de anatomia. E que não se limita a assaltar tumbas, pois tem também outras formas mais criminosas de se munir de cadáveres. Mas no final...
... No final surge o horror a sério, com forte indicação de sobrenaturalidade, ainda que outra interpretação o faça não passar de psicológico. Seja qual for a interpretação preferida, o final é bastante apoteótico em termos narrativos, contando com cadáveres, noite, tempestade e chuva. E medo, muito medo. Mais das personagens que deste leitor, que é muito imune ao medo vindo da literatura, mas medo, muito medo. Um final que explica a mudança acontecida no homem que conta a história, pois além do confronto que este tem com o desconhecido existe também nele uma mudança radical no rumo da vida que também contribui para o mistério que acrescenta interesse à história.
No fundo, e tal como O Médico e o Monstro, esta também é uma história sobre a natureza e a decência humana, e os limites éticos a que deve obedecer quem lida com a vida e a morte. Sobre as consequências de se ultrapassar esses limites. Sobre a consciência, no fundo. E é uma boa história, mesmo que a sua qualidade esteja bastante aquém do romance.
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