sábado, 7 de março de 2020

Nelson de Matos (org.): Doze Escritores Portugueses Contemporâneos (#leiturtugas)

Tenho o Bibliowiki basicamente parado, por falta de tempo para lhe dedicar. Consequência de várias coisas, quase todas positivas: ter tido trabalho, ter voltado a escrever, ter lido bastante ultimamente e portanto ter tido muito a dizer sobre o que vou lendo, e por aí fora. Mas o Bibliowiki sofre. O que não quer dizer que parem as leituras que vou fazendo para perceber se os livros têm lá dentro alguma coisa que interesse ao wiki. E aqui está mais uma.

Pois esta antologia de Doze Escritores Portugueses Contemporâneos, organizada por Nelson de Matos de forma algo clandestina, pois não aparece o seu nome em lugar nenhum e há que deduzir que a responsabilidade é sua a partir de elementos díspares, foi comprada (cegamente, num site de livros em segunda mão) especificamente para satisfazer essa curiosidade: conterá alguma coisa relevante para a literatura fantástica? Algum autor novo, algum autor a escrever textos com elementos não realistas de relevo?

E de facto contém. Não é como em certas antologias, em que, com grande surpresa, constatei que a literatura fantástica compõe um quinhão significativo dos textos nelas presentes, mas dois destes doze textos são realmente enquadráveis no fantástico, um de uma forma mais ténue, outro de modo decidido. Missão cumprida, portanto.

No entanto, não era esse o propósito deste livro. Trata-se de uma compilação de textos previamente publicados, entre contos e excertos de romances, com o objetivo de apresentar a putativos leitores, tradutores e editores uma série de autores da casa, a Dom Quixote. A ideia é, pois, despertar curiosidade pelo resto das obras de onde estes textos são extraídos e, por extensão, pelo resto das obras dos autores aqui incluídos. Terá sido nisso bem sucedido?

Bem, pela parte que me toca, mais ou menos. Se é certo que gostei de vários destes textos, e até os achei em geral boa ou muito boa literatura, a esmagadora maioria não me puxou o suficiente os cordelinhos do gosto para me levar a ter realmente vontade de arranjar os livros de que fazem parte. Ou por outra, alguns até levaram, mas de forma algo vaga, como um projeto a médio ou a longo prazo, não como algo para fazer em breve. E todos sabemos o que acontece com frequência aos projetos vagos de longo prazo, não é? Esquecem-se. São ultrapassados pelos acontecimentos e pelas vontades. Acontecerá? Só o futuro o dirá.

Se chegar a acontecer, não será surpresa para ninguém que aconteça sobretudo com aqueles textos e autores que me mostraram pegada fantástica: a Teolinda Gersão de A Árvore das Palavras e a Luísa Costa Gomes de O Fosso e o Pêndulo, embora eu costume não gostar dos contos desta autora. Mas não só: o Álvaro Guerra de Ponta Tenente também me despertou alguma curiosidade, o Mário Cláudio de As Chagas também e até, talvez, a Lídia Jorge de A Espuma da Tarde. Quanto aos outros, duvido mesmo muito que chegue a ler algum.

Seja como for, esta foi mais uma leitura que valeu a pena, mesmo tendo alguns dos textos passado um pouco (ou bastante) ao largo do meu gosto literário: encontrei mais coisas para o Bibliowiki, li alguns textos bons e descobri dois ou três autores que não conhecia e me parecem potencialmente interessantes. Tudo isto é lucro.

Contos anteriores deste livro:
Este livro foi comprado.

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