Novos Tempos (bibliografia) é uma noveleta de Maria de Menezes sobre um estranho "conde" estrangeiro que se muda para um apartamento num bairro suburbano duma cidade portuguesa, tudo indica que Lisboa, e aí começa a interagir com os indígenas.
Depressa se percebe que o conde é uma versão diluída de Drácula e é com igual rapidez que se entende que nada está mais longe das intenções da autora do que escrever horror. A história é humorística de início ao fim, e até tem graça, pois mostra um mui aristocrático e longevo mas falido Drácula (perdão: Dracu), preso à grandeza e hábitos do longínquo passado, com grandes dificuldades em adaptar-se ao ambiente popular que o rodeia, cheio de sopeiras, gandulos, malta dos biscates e do tráfico, cheio de gente de nenhuma erudição mas bom coração.
Claro que o conto subverte por completo os mitos da literatura vampírica, e está nos antípodas da soturnidade tipica do género, o que para verdadeiros fãs da dita é bem capaz de ser crime de lesa-cultura. Na ficção de Menezes, Dracu tem uma filha, capacíssima de andar por aí durante o dia, que arranja trabalho num hospital e toma conta dele, fornecendo-lhe sangue (embora o velho nem sempre resista ao impulso de ir à caça), e portando-se, em geral, como uma imigrante bem-comportada, criando laços e arranjando desculpas para as bizarrias do pai. Às tantas até começa a comer comida de gente, com alho e tudo, num processo de desvampirização que é mais um elementozinho de subversão.
É uma noveleta engraçada, carregadinha de oralismos que, embora nem sempre se mantenham coerentes, até estão razoavelmente bem conseguidos, bem ritmada e que se lê com facilidade. E, pela parte que me toca, com gosto. Não assim muito (houve uma coisa que me incomodou um bocado e que, como é geral a todo o livro, deixarei para a apreciação global), mas algum.
Conto anterior deste livro:
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