quinta-feira, 9 de abril de 2020

Escrita de março


Há um mês, escrevia eu que a ficção que tenho em mãos ia ser acabada "em março, salvo alguma hecatombe". E não é que veio mesmo uma hecatombe?

Covid-19, assim se chama a coisa. Uma epidemia global daquelas que a ficção científica se dedicou várias vezes a analisar, nas fontes, no desenvolvimento e nas consequências, para irrisão de todos os bem-pensantes que agora se descobrem, com espanto e pânico, mergulhados "num filme de ficção científica" (para estes bem-pensantes são sempre filmes; a literatura não existe). E eu, que felizmente não sou bem-pensante, sou um desses tipos escapistas que leem coisas impossíveis de acontecer porque querem fugir ao mundo real, coitadinhos deles, não fiquei nem espantado nem em pânico. Fiquei ávido por informação, toda a informação. E mergulhei nela com sofreguidão, esquecendo leituras, esquecendo vários projetos em curso ou em planeamento, esquecendo quase tudo o que não tivesse a ver diretamente com o trabalho que me põe o pão na mesa e com a vida quotidiana, aquelas tarefas de todos os dias que são condição de estar vivo. E sim, esquecendo também em grande medida a escrita.

Isso, juntamente com o facto da história que tenho vindo a escrever ter chegado a um ponto que exigia parar e trabalhar um pouco em conceptualização — a ficção científica precisa dessas coisas às vezes —, reduziu a menos de metade a quantidade de texto escrito no mês: se o pequeno fevereiro tinha acabado com mais de 8200 palavras de ficção nova, este longo março terminou com meras 4000. Poderiam ter sido as suficientes se a história não tivesse decidido que ia mesmo ser novela; curta, talvez, mas novela. Terminou o mês à volta das 20 mil palavras; quando ficar completo deverá  rondar as 25 mil.

O que isto quer dizer é que deverá terminar agora em abril, apesar da primeira semana do mês ter sido tão improdutiva como foi o mês de março. Ou se calhar ainda mais. Mas acho que vou conseguir acelerar isto; nos últimos tempos tenho conseguido abstrair-me melhor (ou pelo menos durante mais tempo de cada vez) do que se está a passar no mundo e os ajustamentos que foi preciso fazer na vida do dia-a-dia já estão razoavelmente internalizados, transformados em rotinas, pelo que já gastam menos tempo.

Se sim ou se sopas só saberemos em maio. E em maio cá voltarei para vo-lo dizer. Até lá.

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