sexta-feira, 10 de abril de 2020

Lucas Ruelles e Rafael Marx (eds.): Pulp Feek, nº 3

Nos fanzines há um fenómeno que acontece com alguma frequência: a uma modéstia extrema nos primeiros números, seja em termos de qualidade dos textos propriamente ditos, seja em termos daqueles pormenores técnicos de que também é feita uma publicação periódica, sucede-se um período em que as coisas melhoram, e por vezes melhoram bastante. Nem sempre é assim; há fanzines que arrancam logo bastante bem e outros nunca chegam a sair do mau, além de que tenho encontrado este fenómeno muito mais vezes em publicações brasileiras do que nas portuguesas (nestas, a relutância em participar numa publicação que arranca mal parece superar quase sempre a vontade de contribuir para que ela melhore). Mas acontece com frequência.

E aparentemente aconteceu com o Pulp Feek, pois o nível geral deste número 3 é significativamente superior ao dos dois primeiros (e o do segundo já tinha sido mais elevado que o do primeiro).

Ou talvez não. Como estes números são concebidos por forma a incluírem material pertencente a um conjunto restrito de géneros ou subgéneros, também é possível que a explicação seja outra: é possível que os autores que se dedicam a certos géneros e estão dispostos a participar no fanzine sejam melhores autores que os que se dedicam a outros géneros. E também é possível que a verdade esteja numa combinação dos dois fatores.

Seja como for, a verdade é que os textos deste número são em geral melhores que os dos números anteriores... com uma só exceção: o único conto completo que aqui se inclui. Este é um conto fraco e de longe o pior texto do fanzine, ainda que os dois inícios de histórias mais longas que aqui também se incluem mostrem por enquanto, e inevitavelmente, mais potencial que concretização.

E isto sublinha mais uma vez o grande ponto fraco de toda esta ideia: as serializações. Nos velhos tempos das revistas pulp, as serializações faziam sentido porque eram muitas vezes a única forma de publicar histórias longas no contexto limitado de uma revista na época (durante pelo menos parte dos tempos áureos dessas publicações o próprio papel era muitíssimo escasso). Mas numa publicação eletrónica em tempos de internet rápida e de grande volume não faz o mais pequeno sentido, nem mesmo para fidelizar públicos, e menos ainda quando a parte seguinte da história não vem no número seguinte porque este está reservado para textos de outro género, mas sim uma quantidade qualquer de números depois. É, numa palavra, absurdo.

Não vou continuar a ler estes fanzines desta forma. Vou ignorar a sequência, pegar num género e ler o que houver para ler no contexto desse género. Não sei qual será o próximo, mas uma coisa é certa: não será o nº 4.

Eis o que achei do único conto completo desta edição:

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