O Ondjaki é um escritor e peras, sabem? E isso vê-se bem neste conto, com o estranho título de Košava: um Vento que Chegava aos Sonhos, e de que não sei bem como falar sem estragar o que o autor pretende fazer com ele. Que pretende e consegue, sublinhe-se. O facto de cumprir integralmente o que pretende fazer mostra o domínio que tem sobre a sua arte.
O conto é basicamente uma conversa, ou uma série de conversas, entre um padre e uma paroquiana. Há nele uma certa dança das cadeiras, uma vez que as posições típicas do padre enquanto confessor dos pecados alheios e dos pecadores que vão confessar-se ficam... hm... bastante diluídas, digamos assim. Essa dança é em certos trechos razoavelmente literal, não só para sublinhar a alegoria como para permitir encaixar melhor o conto no tema do livro que o inclui. E também isso é bem feito.
E o ambiente é fantástico. Não só porque Ondjaki se socorre de algumas técnicas bastante usadas no realismo mágico, mas também porque há nesta história muito de terror. Para começar, há terror psicológico no padre, por saber o que lhe vai acontecer, e porquê. E esse porquê também traz em si uma dose bastante razoável de terror. Não que o objetivo da história seja causar medo. Mas causar desconforto sim, e um desconforto crescente, tanto devido à situação em si quanto por causa da ambiguidade moral relacionada com o desfecho que se adivinha para a história.
Este conto é francamente bom. Mas nem todos gostarão dele.
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