Creio que nunca tinha lido nada de José Viale Moutinho antes de mergulhar neste O Tricô de Constança e, se este conto é representativo do estilo do autor, desconfio que não vou ficar fã. Ou talvez fique, não sei. Veremos. Vêm aí mais sete contos para formar uma opinião.
Não que Moutinho escreva mal, bem pelo contrário. É até bastante hábil não só no manejo da língua mas no entretecer da história que conta à primeira vista, a de uma tal Constança, senhora antiga e burguesa em fim de vida, com aquela que conta nas entrelinhas, a do período em que o fascismo se instalou em Portugal, para ficar até que uns tipos de cravo ao peito deram cabo dele. O problema é outro; é ser tão detalhista e miudinho na narrativa que depressa consegue aborrecer-me.
Trata-se, como facilmente se depreende, de uma daquelas situações descritas pelo velhíssimo cliché de "não és tu, sou eu". Pessoas mais dadas aos detalhes provavelmente adorarão este tipo de escrita. Eu gosto de detalhes até que o ambiente se solidifica e tridimensionaliza, com perdão do palavrão; quando ultrapassa esse ponto, os detalhes adicionais parecem-me redundantes, formam uma espécie de mapa que obscurece a paisagem e começo a perder o interesse, não só neles mas na história que vai abrindo caminho a custo, à catanada. Ora, não sei ainda se é comum nele, mas aqui Moutinho ultrapassou esse ponto. E bastante.
E esta até é uma história fantástica, de certa forma. A princípio não parece nada, mas no fim surgem elementos oníricos (trate-se ou não do derradeiro sonho) que a afastam de um realismo mais estrito. A ver vamos se assim continua nas outras histórias. E se o resto das características desta se repete.
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