quarta-feira, 30 de junho de 2021

Ângelo Brea: O Sol no Horizonte

Este conto de Ângelo Brea não é tão fraco como o anterior, apesar de sofrer de muitos dos mesmos problemas, salvo em boa medida por um cenário francamente bom. É uma pena que esse cenário, que daria para histórias tão interessantes, seja desperdiçado numa conversa entre pai e filho, infodump puro, onde nem falta o famigerado "como-sabes-zé", aquelas informações que os conversadores estão fartos de saber mas os autores lhes põem mesmo assim na boca para as transmitirem ao leitor. Não é só na FC portuguesa que há potencial desperdiçado.

O Sol no Horizonte é o Sol, esse mesmo que brilha lá fora. Mas nesta história de ficção científica não é a bola de plasma quente que te aquece quando sais à rua e sim uma estrela distante, ainda que brilhante. Estamos noutro planeta, onde uma colónia humana estabelecida gerações antes por uma nave automática se mantém em funcionamento no limiar da sobrevivência, pois o planeta só marginalmente se mostra adequado à sobrevivência de criaturas terrestres. Sem que ninguém saiba porquê, não se consegue comunicar com a Terra. O cenário é este, e a imaginação explode em possibilidades.

Brea, no entanto, não as explora. Limita-se à construção do cenário e a pouco mais. Isso, infelizmente, não chega; a literatura faz-se também (ou talvez principalmente) de outras coisas. E Brea sabe-o; contos como O Bonsai provam que sabe. Mas por vezes, como aqui, parece esquecer. E é pena.

Contos anteriores deste livro:

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