segunda-feira, 28 de junho de 2021

Irmãos Grimm: João com Sorte

Ao ler contos como este por vezes interrogo-me sobre o motivo que leva tantas histórias farsescas mais ou menos populares (mais ou menos uma vez que aqui se incluem não só as histórias populares propriamente ditas, mas também histórias escritas para consumo das massas, através do teatro, etc.) a basearem-se em prodígios de estupidez tão prodigiosos que se tornam inverosímeis. Será o reconforto de se poder olhar para o idiota e pensar "ok, eu não sou assim tão parvo"?

Possivelmente. Mas se assim for, eu devo ser razoavelmente imune porque é rara a história destas que consegue realmente divertir-me. Por vezes aflora um sorrisinho, um tanto ou quanto condescendente, mas daí quase nunca passa. E sim, foi precisamente o que aconteceu com esta história que os Irmãos Grimm encontraram algures e pouco parecem ter alterado.

João com Sorte é um idiota chapado que passou sete anos (claro que tinham de ser sete) ao serviço do seu amo, após os quais resolve que quer voltar para junto da família. O amo recompensa-o com uma pepita de ouro do tamanho da sua cabeça e o bom do João lá zarpa estrada fora de regresso a casa. E ao longo dessa estrada vai fazendo negócios. O problema é não ter a mínima noção do valor das coisas, pelo que a cada negócio fica mais pobre, até que acaba de mãos a abanar. Mas sempre satisfeitíssimo com todos os negócios. E eu, que percebi onde a história ia dar ao segundo negócio estúpido, lá fui lendo até ao fim, abandando a cabeça e pensando no que poderá levar as pessoas a gostar de histórias destas. Não por acaso, foi precisamente assim que abri este texto. E é assim que o fecho, pois continuo sem uma resposta que me satisfaça.

Contos anteriores deste livro:

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