Olha... também gostei deste.
Não que tenha gostado muito. Há nele alguns detalhes (um português eficaz mas não perfeito, uma pegada demasiado juvenil nos diálogos e na construção de personagens, alguma desadequação do resultado à ambição, etc.) que não deixaram. Mas este conto de André Alves é sofisticado o suficiente para sustentar o interesse da leitura até ao fim e para evitar tornar-se previsível. Bem retrabalhado, poderia tornar-se realmente muito bom.
Como o título de A Faca leva a suspeitar, tudo gira em torno de uma faca. Uma faca ensanguentada e um cadáver, mais precisamente, mas a coisa torna-se complexa quando o cadáver aparece ao protagonista vivinho da Silva e incólume, o que o deixa mais perturbado ainda porque tinha sido ele a matá-lo uma hora antes. Mas pelos vistos não. Ou será que sim?
E o conto vai por aí fora, numa espécie de terror onírico com uns toques de ficção científica (universos paralelos ligados por portais? será?), levando repetidamente o triângulo amoroso que lhe está na base a consequências trágicas. E o assassino, aparentemente impenitente, a repetir a façanha, ainda que de formas diferentes.
Não sei se o André Alves conhece, muito menos se teve alguma influência vinda daí, mas esta sua história fez-me lembrar um pouco o excelente livro de Alfred Bester O Homem Demolido. Pesem embora as grandes diferenças, há nas duas histórias a mesma base num crime (ou em vários), há a mesma sensação paranoica de que qualquer coisa no mundo está profundamente errada, há a mesma confusão em grande medida impotente, etc. Claro que o romance é bastante melhor, mas a comparação é elogiosa. Este é um conto com verdadeiro interesse.
Este livro, como todos os publicados pela Fantasy & Co., pode ser descarregado a partir daqui.
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