sábado, 27 de novembro de 2021

Irmãos Grimm: Pele-de-Urso

Neste livro dos Irmãos Grimm é frequente acontecer que contos aparentados uns com os outros surjam a muitas páginas de distância, exigindo um certo esforço de memória para nos lembrarmos da ligação (em especial quando se lê o livro como eu leio, espaçadamente, conto a conto, e intercalando-o com outros). Mas outras vezes surgem colados, o que torna tudo mais fácil. E não me refiro às variantes dos contos que os Grimm incluem frequentemente nas suas notas, mas a contos que consideram independentes o suficiente para os publicarem em separado. E sim, é o caso deste Pele-de-Urso, uma variante do conto anterior.

De novo encontramos aqui um soldado desmobilizado que, para sobreviver, faz um contrato com o Diabo. E de novo esse contrato determina que o soldado estará submetido durante um período de alguns anos, durante os quais estará sujeito a uma série de restrições, que incluem ausência de banhos, de cortes de cabelo, de coisas dessas, e à obrigação de usar umas vestimentas que o afastam visualmente do género humano. O que, de resto, explica o título. A grande diferença é não haver aqui propriamente uma servidão, pois o soldado não só fica livre para deambular pelo mundo como está provido de uns bolsos mágicos onde encontra sempre todo o dinheiro de que poderá precisar. Parece fraco negócio para o Diabo, mas há ainda mais um detalhe: se o soldado morrer durante o período contratado, a sua alma é do Diabo. Não terá vendido propriamente a alma ao Diabo, mas digamos que fez uma espécie de leasing.

No fim, tudo lhe corre bem, e o soldado não só não morre durante o período estipulado como acaba rico e casado com uma princesa. Fazer tratos com o Diabo é porreiro, pelos vistos. Mas este, apesar de tudo, também lucra com o negócio, porque se há coisa capaz de revelar sacanas, daqueles cujas almas segundo a mitologia estão condenadas ao inferno, é a cobiça. E essa, acompanhada por uma panóplia de outros sentimentos pouco nobres, está bem presente nesta história.

Este é um conto curioso. Apesar da mesmice, pareceu-me melhor que o anterior. Mais sofisticado, de certa forma, ainda que talvez seja mais apropriado falar aqui em menos básico. Dito isto, não se trata propriamente de uma das histórias memoráveis dos Grimm; essas parecem já ter ficado para trás, no primeiro volume.

Contos anteriores deste livro:

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