segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Mário de Carvalho: Epílogo

Eis outro conto que já tinha lido quando tomei inicialmente contacto com estas histórias, na Antologia do Humor Português, e que comentei aqui. Continuo a pensar como pensei nessa altura, em geral: o conto é muito divertido e, se lido como denúncia, é magnífico. O curioso é que nesta segunda leitura já não me pareceu propriamente uma denúncia, apesar das personagens saírem a comentar, desapontadas, que o autor está a confundir género humano com Manuel Germano. Antes, parece-me que Mário de Carvalho é sincero no seu desejo de se integrar na tribo dos literatos e que sente o óbvio gozo que tem na escrita destas histórias como algo de que se deve envergonhar.

Olhando para o seu percurso posterior, só se confirma essa sinceridade. Aos dois volumes iniciais de contos seguem-se romances bastante mais ambiciosos (e julgo que bastante menos fantásticos), embora os contos continuem a aparecer com regularidade na sua bibliografia. Este Epílogo (bibliografia) é, assim, um epílogo para uma forma descontraída e imaginativa de estar na literatura. O epílogo de uma fase. E eu tenho pena de que assim seja, apesar de reconhecer que até compensou em termos de carreira. O intelectualoide português, como se sabe, é avesso à imaginação, especialmente quando temperada de humor. Com coisas destas, de facto, Mário de Carvalho não chegaria onde chegou.

Contos anteriores deste livro:

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