Não que este conto seja particularmente bom, que não é. Mas Angelo Brea tem aqui pelo menos o mérito de mostrar como é possível criar uma ficção que é puro infodump mas este não constitui o corpo estranho e frequentemente desagradável que se intromete em tantas histórias, muitas vezes de FC mas não só, fazendo em vez disso sentido no contexto da história que é contada.
Rosas de Admete é no essencial um depoimento. Algo que alguém escreveu, numa época de incerteza, para que pelo menos a sequência de acontecimentos que deram origem a essa incerteza ficasse registada para a posteridade. E é por isso que funciona enquanto conto: o texto é basicamente o que seria de esperar de um texto escrito por alguém com essas motivações, muito mais preocupado em contar uma história tal como a entende do que com qualquer coisa que tenha a ver com literatura. Assim, aqui não encontrarão diálogos ou personagens: encontrarão a história de como a humanidade encontrou num planeta distante os peculiares seres vivos a que chamou rosas de Admete, os efeitos que neles descobriu e as consequências que isso teve. Nada mais, nada menos.
E as explicações que Brea dá são, de uma forma geral, as que seria de esperar que alguém nessas circunstâncias desse. Eu talvez escrevesse este conto de uma forma algo diferente, deixando transparecer mais da personalidade do narrador, imprimindo ao seu depoimento um caráter mais emotivo e deixando cair umas pistas subtis aqui e ali sobre o que aconteceu. Mas Brea é da FC clássica, não costuma prender-se muito com a construção de personagens e não é muito de subtilezas, pelo que não esperava encontrar aqui nada disso como, de facto, não encontrei. Encontrei um infodump que funciona, e isso já é alguma coisa.
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