sexta-feira, 12 de novembro de 2021

José Viale Moutinho: A Princesa Encantada

Não há nada de literal no título deste conto. Não há no conto princesas, muito menos encantadas. Tampouco há algum sinal de fantástico, seja ele qual for. José Viale Moutinho elabora um conto realista, sobre um momento na história portuguesa em que uma série de revoltas contra a ditadura abala vários pontos do país, incluindo a Madeira que serve de cenário para este texto, e que, provavelmente por falta de preparação e união, acabam derrotadas, acabando Salazar por servir-se delas para solidificar o seu poder. Assim sendo, porque lhe chamou Moutinho A Princesa Encantada? Bem...

Especulando, creio que a princesa encantada a que o título faz referência é a liberdade. A liberdade sonhada mas em grande medida inacessível, não só mas também porque o protagonista da história não arranja à última hora a coragem necessária para lutar por ela. Ou simplesmente não vê como, talvez. Sim, que Moutinho não conta propriamente a história das revoltas, mas sim uma história íntima, sobre o olhar limitado do seu protagonista sobre o que está a acontecer, um olhar que primeiro vem embebido de esperança e medo e depois de desilusão e resignação.

Sim, é bom, este conto. Mas é um conto desencantado, pouco esperançado, sobre alguém que se vê ultrapassado pelos acontecimentos e cruza os braços, acobarda-se, nada faz. Conhecemos bem as consequências, todos os 48 anos delas. Daí que após a leitura fique um certo incómodo. Uma insatisfação. Mas, como o protagonista da história, nada podemos fazer. Ela está escrita. É o que é.

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