É bem sabido que pessoas diferentes, com ideias diferentes sobre a natureza das coisas, gostam de ler, ver ou ouvir histórias diferentes. É esse um dos motivos por que é uma patetice achar-se que alguém tem a opinião definitiva sobre seja o que for, pois a subjetividade que emana do que cada um é irá sempre influenciar as opiniões que tem sobre qualquer forma de expressão artística. Isto das artes não é matemática: aqui não existem verdades universais. O que é bom para Fulano pode ser mau para Beltrano sem que Fulano seja menos que Beltrano ou vice-versa (desde que ambos saibam justificar decentemente as respetivas opiniões). Mas divago.
É bem sabido, dizia eu, que pessoas diferentes gostam de ser recetoras de obras diferentes. Não sei se é igualmente bem sabido que pessoas diferentes também gostam de ser emissoras de obras diferentes, mas devia ser. E esta história que os Irmãos Grimm ouviram numa aldeola no centro da Alemanha faz disso prova, quando comparada com outras histórias que os irmãos incluíram no mesmo volume.
É, de novo, a história de um tolo. O tolo é O Aprendiz de Moleiro Pobre e a Gatinha será uma criatura encantada que ele vai encontrar quando parte à aventura junto com os outros dois aprendizes (que depressa o abandonam), pois o velho moleiro, que pensa reformar-se, prometera deixar o moinho àquele que lhe trouxesse o melhor cavalo. Sem saber bem como (afinal de contas, é tolo), é este que acaba por ganhar a contenda. Na verdade, acaba por ganhar muito mais do que estaria nos seus sonhos mais extravagantes.
As duas ou três pessoas que têm seguido esta série de opiniões decerto saberão que a figura do tolo costuma funcionar nestes contos populares como bombo da festa, prodígio de cretinice, bufão ridículo cujas trapalhadas só podem realmente fazer rir. Imagino que as pessoas que contam tais histórias sejam diferentes das que contam histórias como esta, nas quais a bondade dos parvos acaba por se sobrepor à canalhice dos espertalhões. É como em tudo: uns deixam-se atrair por umas coisas, outros por outras.
E é boa, a história? Não é má, digamos assim. Não fica na memória, mas pelo menos não se acaba a leitura com um nó de repugnância na boca do estômago.
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