sexta-feira, 16 de março de 2018

Mito e realidade, edição FC

Diz o mito que ninguém fala de FC nos países de língua portuguesa. Que a blogosfera está morta e a presença da ficção científica na imprensa é residual, quando não nula.

E qual é a realidade?

Ó Mythbusters! Venham cá!

Os Mythbusters chegam e reparam que o Ficção Científica Literária começou em meados de dezembro último a incluir informação sobre as fontes de cada peça a que liga. Como essas fontes são identificadas por siglas/abreviaturas (para poupar no limitado espaço disponível para etiquetas nos blogues do Blogger), estão reunidas numa página própria onde é feita a descodificação dessas siglas. Aqui. E quantas são elas neste momento, três meses depois de começarem a aparecer?

253. Sim, duzentas e cinquenta e três.

Sim, é verdade que a maioria chega do Brasil, é certo que um número significativo dessas fontes tem um interesse bastante residual (quando não é nulo) pela FC literária, aparecendo na lista sobretudo ou inteiramente devido às adaptações para cinema e TV, mas mesmo assim... São duzentas e cinquenta e três. Em três meses.

O veredito dos Mythbusters sobre o mito é, pois, um claro busted.

A queixa recorrente sobre a inexistência de media (um blogue também é um medium, por mais informal e amador que seja) a falar de FC, portanto, não faz nenhum sentido. Sim, há poucos media específicos de FC, mas não faltam aqueles que incluem referências à ficção científica no meio de outras coisas. Será uma chatice para quem só quer falar de FC, mas não só é inevitável que assim seja se quisermos que a FC saia do gueto (e eu quero), como é muitíssimo saudável.

Isto não quer dizer que não haja queixas que façam sentido. Eu próprio tenho algumas, e se acompanham a Lâmpada já as terão visto por aí. Há pouquíssima gente a falar da FC lusófona, por exemplo, e em especial a fazer resenhas ou críticas. E isso é mau porque não basta divulgar lançamentos, convém que as coisas sejam lidas com olhos de ler. A crítica é necessária a um ecossistema literário equilibrado, e é necessária não só em quantidade mas também em variedade. Nunca é bom quando se afunila demasiado as opiniões e é inevitável que isso aconteça quando há poucas pessoas a opinar.

Também é verdade que se restringirmos as fontes às que falam sobre FC com alguma regularidade este número de 253 se reduz substancialmente. Com efeito, neste momento existe uma fonte que aparece em 40 posts, mais 5 que surgem em mais de 20 e outras 22 que surgem em 10 ou mais. Dá cerca de 30 fontes que se referem à ficção científica literária três vezes ou mais por mês, em média. Não é muito, é certo, mas é consequência da falta de especialização (embora muitas destas fontes mais produtivas não sejam fontes especializadas) e o grande número de fontes compensa o suficiente essa escassa produtividade para já me ter obrigado a subir de três para quatro o limite de posts por dia no FCL (quando há material a mais fica para o dia seguinte... e só com três posts estava a acumular).

E depois haverá decerto queixas que fazem sentido no que toca à qualidade. É verdade que muitas das referências à FC literária não são grande espingarda, não só nos blogues mais descontraídos e informais, mas até na imprensa profissional. Até entre "especialistas", na verdade (aspas porque se abusa muito da palavra "especialista", tratando-se assim muita gente que não o é. De vez em quando até me chamam isso a mim, vejam só. Sim, sim, não vo-lo vou dizer na cara se me chamarem isso, mas recuso por completo o rótulo: não basta ter um bocadinho mais de conhecimentos do que a média para se ser especialista). No entanto, isso é algo que acontece com qualquer coisa, não é específico da FC. Aliás, quanto mais massificada for a coisa mais isso acontece. Ou seja: se a literatura de FC algum dia se massificar realmente (improvável, eu sei) é de esperar que a qualidade média das referências que lhe são feitas baixe ainda mais. É, simplesmente, a vida.

Resumindo e concluindo: la nave va. Seria bom que andasse mais depressa e/ou com um rumo algo diferente, mas que anda é incontestável.

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