Este primeiro volume da Antologia Fénix, organizado por Marcelina Gama Leandro e Álvaro de Sousa Holstein, teve dois pontos explícitos de limitação: as histórias tinham de ser elaboradas em volta dos livros e não podiam ultrapassar o tamanho de vinheta, embora houvesse uma certa flexibilidade (João Ventura, por exemplo, apresentou um conjunto de três minicontos). O género era livre, dentro dos parâmetros da ficção especulativa, e há contos de fantasia, ficção científica, terror (ou algo de semelhante) e fantástico mais todoroviano.
Como sempre acontece em compilações multiautorais de histórias (e até nas de um só autor), a qualidade destas é variável, mas pode-se dizer em seu favor que não há nenhuma que seja decididamente má, o que é mais do que algumas antologias publicadas em papel por editoras profissionais se podem gabar. Há algumas histórias fracas, ou bastante fracas (em especial a de Manuel Mendonça), mas situam-se mais no campo do medíocre do que no do mau. Por outro lado, também não há obras-primas e as histórias realmente boas são escassas. Mas existem, e entre elas destacaria as de Raquel da Cal, de Inês Montenegro, de Diana Sousa e, talvez, de Ana C. Nunes, embora a maior parte destas quatro histórias pouco acima esteja de um conjunto de outras seis ou sete no que toca à qualidade. Curiosamente, as autoras são todas mulheres. É absoluta coincidência esta opinião (muito atrasada) sair logo depois do 8 de Março, mas calhou bem.
No que toca aos passos em falso, há várias histórias que falham por a ambição da ideia se adequar mal à dimensão exigida para os contos. Não foram nem duas nem três as que exigiriam uma extensão maior (e por vezes muito maior) para os autores poderem realmente explorar as ideias a contento. Sintoma de falta de hábito e inexperiência na escrita de ficção ultracurta, parece-me, ou talvez, em certos casos, de falta de tempo para arranjarem ideias mais apropriadas; afinal, os próprios organizadores admitem na introdução que o prazo concedido foi curto. Essa inexperiência resolver-se-ia com o tempo, caso houvesse lugares para publicação regular deste tipo de ficções (e de outras mais extensas) e algo muitíssimo importante: mais leitores dispostos a fazer leituras críticas e com capacidade para as fazer. Mas aparentemente não temos nada disso, portanto a inexperiência só poderá agravar-se. É pena. Há aqui autores com potencial que assim, muito provavelmente, nunca conseguirão desenvolvê-lo.
E quanto a apreciação geral é tudo o que tenho a dizer. Eis agora o que achei das histórias individualmente consideradas, exceto uma, sobre a qual não opinei:
- Cuidado! Leituras Perigosas
- Flip-Flip Crack-Crack
- Mutação
- Livro do Tempo
- A Passagem Secreta
- Libris in Ténebris
- Portas do Conhecimento
- Viagens ao Futuro
- O Tomo de M
- Escotilha
- Miel Lê (conto meu, obviamente sem opinião)
- Silverfish, o Último Inquilino
- Leituras
- Felicidade
- Eles Andam Aí
- Leitura Entre Lençóis
- Manuais Escolares
- Mundos em Mundos
- Livros que não deviam ter sido escritos – XIV
- O Iluminiaturista
- Uma Demanda Literária
- Relatos Verídicos
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