Nunca tinha ouvido falar de João Bonifácio antes de pegar neste conto, uma parede de texto contínua que preenche todas as (abençoadamente escassas) páginas que ele ocupa, efeito contra o qual nada tenho, por princípio, até porque pode ser usado com grande eficácia para transmitir uma impressão de torrencialidade de discurso, de urgência, de sufoco, mas que neste A Cerimónia depressa se torna muitíssimo cansativo, para não dizer chato, porque, parece-me, a história não tem interesse algum e portanto nada existe que leve o leitor a ter gosto em fazer o esforço de leitura acrescido a que o artifício obriga.
Trata-se no fundamental de um estudo de personagem, e de uma personagem razoavelmente desaparafusada, muito burguesa mas aparentemente endividada, que procura convencer alguém a aceitar um disco como pagamento dessas dívidas. Mas um disco cujo valor é sentimental e portanto íntimo, o que não faz sentido nenhum a não ser para si própria. Isto no meio de um denso matagal de apartes e parêntesis e que de repente acaba sem
E aquilo que fica ao terminar a leitura é um redondo meh. OK, a língua portuguesa não sai disto maltratada, 'tá certo que há alguma ironia, crítica social e etc. e tal, mas no fundo... meh. É um exercício de estilo, do parágrafo único ao final interrompido, daqueles que têm bastante mais interesse para quem os faz do que para quem os lê, e eu, estando do lado de cá da leitura, solto um meh e depressa o esqueço.
É mau? Não, não creio que seja. Mas coisas destas, para realmente resultarem, precisam de histórias fortes, de histórias que causem verdadeiro impacto. E esta está muito, muito longe de a ter. Por conseguinte, é simplesmente esquecível.
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