Uma das coisas que me parecem mais importantes numa história de terror é a criação de uma atmosfera. Não é fácil; exige a compreensão de como a linguagem afeta a perceção emocional dos ambientes e situações. Não exige necessariamente que se escreva bem — um autor que não escrevia bem mas sabia fazer isso como poucos era Lovecraft, por exemplo — mas exige que se saiba como instilar no leitor um estado de espírito propício à história. Há nisto uma parte de subjetividade, há técnicas que funcionam com alguns leitores mas não com outros, mas seja como for convém conhecê-las e tentar utilizá-las.
Dio Fontes não escreve bem — ou pelo menos não escrevia quando este seu conto foi publicado, em 2013; convém fazer frequentemente esta ressalva porque há autores que evoluem, e por vezes de forma significativa. E, ajuizando por este Alimento, também não parece ter bem a noção de como criar uma atmosfera de terror. Conta uma história sobre um misterioso monstro devorador no Rio Paraná, de forma direta, seca, sem qualquer espécie de subtileza, e o enredo vai-se desenrolando à filme americano, de um modo formulaico e sem surpresas.
E como consequência, o conto é mauzinho. Não só o enredo é banal como, o que é pior, não existe nele qualquer espécie de emoção. Em todo o caso, não é o pior conto publicado neste fanzine (refiro-me à publicação, não a este número em concreto), mas disso falarei mais quando falar deste número.
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