É possível escrever histórias interessantes com base em clichés? Sem dúvida. Mas ajuda não exagerar na dose de cliché, usá-los com uma certa conta, peso e medida e arranjar motivos de interesse que ultrapassem o cliché. E escrever bem, já agora, também é bastante útil. E antes de avançarem mais, tomem lá um aviso: daqui em diante há SPOILERS com fartura.
Ricardo Dias parece ter-se inspirado no Toy Story para escrever este conto. Mais especificamente no personagem Buzz Lightyear, o intrépido (mas algo desastrado) astronauta, eternamente vestido com o seu ultrassofisticado fato espacial. O fato do protagonista desta história, Icarus de seu nome, é um fato desses, capaz até de viajar pelo hiperespaço entre planetas separados por muitos anos-luz.
E é o que faz, experimentalmente, mas um imprevisto desastroso faz com que o faça de forma precipitada. O resultado é ir parar a algum lugar desconhecido (e eu lembrei-me de todo um arco narrativo do Star Trek), onde é capturado por aliens. E sim, quando falo de aliens não estou simplesmente a falar de extraterrestres; falo dos tipos que, segundo as lendas urbanas, andam por aí e enfiar sondas retais nas pessoas e a raptar vacas. Enfim, tudo corre mal. Icarus Blues.
Mas claro, a coisa acaba por se resolver, graças a um étê que, à revelia dos outros étês, se alia ao prisioneiro humano. Já vimos este filme milhentas vezes, é só mais um cliché a juntar a todos os outros que, se fossem diluídos numa história mais longa, com outros elementos mais originais a afastar deles a atenção de quem lê, poderiam passar, mas sendo tantos numa história tão curta o resultado é uma densidade demasiado elevada para não saltarem à vista. E como o português não é propriamente perfeito, o resultado é um conto fraco.
Este livro, como todos os publicados pela Fantasy & Co., pode ser descarregado a partir daqui.
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