Ai julgavam que as histórias sobre espíritos (ou génios) presos em garrafas (ou em lâmpadas mágicas) eram só coisa das Mil e Uma Noites, é? Que eram só histórias das arábias? Ná. A verdade é que quanto mais contos populares leio, e não me refiro só a estes alemães mas a todos, mais me convenço de que um bom quinhão destas históries têm muito pouco a ver com a cultura específica de um lugar específico e muito a ver com um fundo cultural comum que abrange vastas áreas do planeta. Afinal, desde os tempos mais distantes que os seres humanos deambulam pela grande área continental euroasiatico-africana, e com eles sempre viajaram as suas histórias. E sendo nós como somos, é fácil de ver que assim que surgisse algum rudimento de língua em comum começaria de imediato a surgir também a troca de histórias, lendas, anedotas, enfim, de tudo aquilo de que se compõe a literatura popular.
Não que este O Espírito na Garrafa seja uma simples variante da história de Aladino. Está até bastante longe de o ser. Mas tem vários elementos em comum, a começar, obviamente, pela entidade mágica fechada na garrafa, em tudo semelhante ao génio que só sai da lâmpada quando alguém a esfrega. Nesta história, que não parece ser daquelas que os Irmãos Grimm não alteraram de todo mas também não é das "reconstruídas" a partir de várias fontes, conta-se a história de como um filho de lenhador se transforma num médico rico e famoso (há até versões que a associam a Paracelso). Que tem isso a ver com espíritos em garrafas? Bem...
Tem porque o rapaz vai ajudar o pai para a floresta, de machado em riste, e a dada altura depara com uma voz que vem de dentro de uma árvore. Investigando, descobre a tal garrafa num buraco na árvore. E dentro desta está o tal espírito. Espírito esse que é maligno e tenta matá-lo assim que se vê livre, mas também é estúpido o suficiente para o rapaz o dominar com um truque simples. Vendo-se de novo encurralado, promete-lhe mundos e fundos caso seja libertado, e desta vez cumpre.
Não é dos melhores contos que se podem encontrar por aqui, mas já vi esta ideia retrabalhada em livros de fantasia, o que é um bom indicador de também não ser dos piores. A fantasia literária (e não só) tem vindo beber muito nestas águas mas não bebe em todas. Só nas que considera inspiradoras.
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