«Partida de novo para este pensar do pensar. O que disturba a mente e impede o voo interno, os olhos do pensamento.» Assim arranca este texto que Bernardo Rodrigues achou por bem intitular como Sismo. E já ficaram com uma ideia excelente do conteúdo. É precisamente aquilo que as pessoas de fora associam ao pior da escrita académica: prosa pretensiosíssima, hermética, repleta de palavras esdrúxulas no sentido alegórico desta palavra, enfim e em suma, chata. Que nem toda a escrita académica seja assim, ou que também surjam coisas destas fora da academia, pouco importa: a associação existe e é sólida, e o surgimento de textos destes em revistas publicadas por universidades só a reforça.
Pretende Bernardo Rodrigues com este texto contrastar tipos diferentes de inquietações que fazem mover as personagens literárias, ilustrando a ideia com duas delas. Pelo menos à superfície. Mais profundamente, pretende agregar-se, ou pelo menos mostrar-se agregado, a uma tribo. É essa a função principal de textos como estes: a sua impenetrabilidade, o seu pretensiosismo, são marcas tribais que servem para identificar os membros face aos que não o são. Fazer um texto claro, que qualquer pessoa entenda, corre o risco de deixar qualquer um entrar nos rituais sagrados da tribo; assim, esse risco não existe, ou pelo menos qualquer alguém que consiga (e queira) desbastar a palha literata será um alguém com as qualidades necessárias para ser aceite como neófito. E é isto o que realmente interessa neste texto e noutros como ele; tudo o resto é secundário.
Não faço, nem nunca farei, parte desta tribo. Felizmente.
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