terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Ângelo Brea: Um Planeta Remoto

Na ficção científica, como em outros géneros literários, as definições tendem a ser vagas e a dar bastante espaço para interpretações, o que não impede muita gente de as tratar (ou pelo menos à sua versão delas) como verdades absolutas e incontestáveis. Isso tem como consequência inevitável que para não gerar incompreensões convém explicar-se concretamente o que se entende pelo termo x. Termos como space opera, por exemplo, ou romance planetário.

Neste Um Planeta Remoto, Ângelo Brea não faz uma space opera mas o ambiente está lá. Não existe a aventura melodramática nem o romantismo cavalheiresco, mas existe, em pano de fundo, a guerra interplanetária, sob a forma de uma Federação Terrestre, composta por centenas de planetas-colónia e colónias mineiras espalhadas pelas estrelas, que está sob ataque (e a ser derrotada) por uma coligação de piratas espaciais e rebeldes de todos os tipos.

O conto está mais próximo do romance planetário, ainda que também não seja bem isso. É uma história híbrida. Os escassos habitantes de uma colónia mineira que se vê na iminência de ser atacada e/ou destruída pelos piratas conseguem convencer o capitão de uma nave cargueira a transportá-los para um planeta distante onde terão possibilidade de sobrevivência e para onde tinha partido algum tempo antes uma família conhecida do capitão. E lá vão eles.

O ambiente é bem estabelecido por Brea e a situação é bastante interessante. Pelo menos para mim, que não gosto de space opera propriamente dita mas tendo a gostar bastante de histórias que subvertem esse subgénero e de muitos romances planetários. Esta é daquelas histórias que me prendem desde o início, e Brea até é mais competente do que é hábito no equilíbrio entre a explicação dos elementos de construção de mundo e o avanço do enredo.

Mas depois, a história acaba sem chegar propriamente a fechar o seu arco narrativo. O grupo chega ao tal planeta e vai deparar com a família de pioneiros toda morta, sem que se perceba porquê, e não há tempo nem espaço para se investigar as mortes e perceber se a nova colónia será mais bem sucedida que a anterior ou que desafios terá de enfrentar.

Ou seja, esta história daria um início de romance bastante bom. Mas tal como está termina de uma forma muito frustrante.

Contos anteriores deste livro:

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