O grande problema do material escrito por autores ultraconservadores não é estar mal escrito ou até o conservadorismo que esse material tenta sempre (sim, sempre, mesmo quando não parece) inculcar nos leitores. O grande problema é que os autores ultraconservadores não gostam do que é novo, não se sentem confortáveis com o novo, e por isso não inovam. E por isso o que escrevem vem quase invariavelmente cheio de uma pesada carga de já visto, já lido, já mastigado, já ruminado até à exaustão.
Ora este conto de Miguel Carqueija é um excelente exemplo disso mesmo.
Pretensamente de ficção científica, o conto na verdade de FC não tem quase nada. Passa-se fora da Terra, num futuro indeterminado, como se poderia passar numa casa aristocrática qualquer do século XIX. Nenhuma das personagens é realmente futurista; são todas anacrónicas, gente da "alta sociedade", obviamente, porque é a única que interessa. Doutores disto e daquilo, um coronel, uma duquesa... Só a maquineta holográfica (que não destoaria num qualquer Star Wars) que permite desvendar o assassinato justifica realmente a sua inclusão no domínio da FC.
Sim, que a história é um whodunnit. Com detetive e tudo, embora não seja o detetive a resolver o crime.
E quando a isto se juntam uns diálogos quase ridiculamente melodramáticos, um deus ex machina absolutamente literal a apressar um desenlace que sem esse deus ex machina talvez nem chegasse a existir, pois a presença de uma entidade sobrenatural (Aquela Garota de Olhos Brilhantes, precisamente, uma espécie de anjo) faz com que uma dada personagem aja de forma que nunca agiria se a história obedecesse à lógica, e uma citação bíblica a abrir que desvenda todo o enredo antes mesmo do conto começar, o resultado é um conto completamente derivativo, cheio de mofo, desinteressante do princípio ao fim e muito, muito chato.
Este conto é mau.
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