quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

M. D. Amado: Adam

Não é impossível escrever boa ficção em infodump puro. Se houver um domínio apurado da língua e boa qualidade na técnica narrativa, além de uma grande inteligência e/ou sensibilidade literária para saber que informações fornecer e quando, que informações esconder e até quando, que informações sugerir ou deixar subentendidas, e até, em certos casos, que informações errar, o resultado pode ser até bastante bom. Não, não é impossível. Mas é bastante difícil. E torna-se ainda mais raro encontrar um bom conto em infodump puro por serem quase sempre os autores mais inexperientes e/ou fracos que se aventuram a fazê-los. E os resultados mais comuns são...

Enfim...

Olhem, são como este conto.

Adam é uma espécie de Adão neste infodump de ficção científica de M. D. Amado, e por aí já ficam com uma boa noção do nível de subtileza atingido pelo autor. Potencial único sobrevivente de um armagedão tecnológico acontecido em finais do século XXII, Adam escreve uma carta a explicar a outros sobreviventes eventuais o que aconteceu, mas o autor não parece perceber que uma coisa é uma carta escrita para ser lida por contemporâneos, outra bem diferente é uma carta escrita para ser lida por gente do princípio do século XXI, pelo que ao escrever para estes falha redondamente em torná-la credível como missiva para aqueles.

Quando a isso se junta aquele catastrofismo à filme de Roland Emmerich, no qual ninguém que saiba um pouco de ciência é capaz de acreditar (quando não passa o tempo todo a revirar os olhos), e um tratamento da língua não só pouco inspirado mas até com algumas falhas mais ou menos crassas, o resultado só pode ser um conto bastante fraco. O pior deste fanzine até ao momento.

Contos anteriores desta publicação:

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